O regresso do rei

Um professor obcecado por tejadilhos de automóveis. Um poeta triste. Um madeirense corajoso, ou talvez louco, que adoptou uma viatura funerária como carro oficial de campanha. Um comunista fiel. Um ex-autarca de Viana de Castelo que só faz campanha em Viana do Castelo, e que provavelmente só terá votos em Viana do Castelo. O candidato Vieira, que não chegou a ser (um homem que prometia um Ferrari para cada português, vinho tinto canalizado em todo o país, e que desistia se fosse eleito, escreveu e compôs a música do hino oficial da campanha que nunca chegou à estrada).
Finalmente, o mais nobre dos candidatos, o Fernando. Homem de causas, médico, fundador e Presidente de uma das organizações não governamentais mais bem sucedidas do mundo – a AMI. Sem ligações a partidos. Lidera um movimento de cidadania bem-intencionado. Desconhece-se que tenha feito publicidade a bancos, ou negócios menos claros. Está fora do sistema que parece corromper. Parece ser o mais sério candidato ao lugar, embora sem o dom da retórica que se exige a um alto representante da nação.
Eis as presidenciais. Candidatos incapazes de transmitir qualquer espécie de energia positiva, a não ser aquele que nunca chegou a ser. Poucas ideias. Ataques pessoais. Revelações surpreendentes. Pelas conversas que se ouvem pelos cafés calcula-se que a maioria, à primeira volta, vá para o candidato que menos dinheiro gastou na campanha - a abstenção.
Até mesmo a cobertura jornalística ficou além das expectativas. Confesso que já tenho saudades dos gatos fedorentos, que tão bem esmiuçaram as últimas legislativas.
Agora importa saber se compensa ao país toda esta despesa num acto eleitoral para um cargo cada vez mais vazio de poderes. A chamada magistratura de influência não é mais do que um gasto supérfluo para este pobre país, que faz vida de rico.
Talvez uma Monarquia fosse mais rentável. Em 100 anos, o tempo que nos separa desse momento triste do regicídio, o que não tínhamos poupado em actos eleitorais. Em campanhas pagas com o dinheiro dos contribuintes. Tal como a Espanha e o Reino Unido, agora teríamos uma família real. Reis, rainhas, príncipes, e princesas. Agrada-me muito mais esta ideia. E talvez fosse uma mais-valia para os cofres públicos. Contas feitas, os gastos da presidência da república dariam para manter esta família, que seria a nossa marca. A nossa mascote. Uma atracção turística. No aeroporto da portela teríamos lojas de merchandising com bonequinhos do D. Duarte.
Voto no regresso do rei.
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