A pandemia tecnológica

“Mutei o microfone. Pagamentos só com MB-Way. A minha avó já sabe fazer videochamadas”. Estas e outras expressões vieram para ficar. A humanidade está a assistir a um dos maiores choques tecnológicos dos últimos séculos, num curtíssimo espaço de tempo. As ferramentas já existentes massificaram-se. Aperfeiçoaram-se. O mundo reinventou-se. Fruto da pandemia, a sociedade foi forçada à mudança, à inovação. Paralelamente ao coronavírus, o contágio das novas tecnologias também foi global.

Zoom, Microsoft Teams, Jitsi, Skype e outras plataformas para videoconferência são termos que passaram a fazer parte do léxico diário, em todo o planeta. Foram implementadas em tempo recorde para reunir com os colegas de trabalho, assistir a aulas ou simplesmente falar com a família, em tempos de isolamento. Nos últimos tempos, ginástica, escrituras e até divórcios passaram a ser feitos à distância.

As crianças em idade escolar nunca tiveram um contacto tão intenso com os meios digitais como agora. Aulas síncronas, email, pesquisas online e utilização de plataformas como a Escola Virtual são triviais para os alunos desta geração. O domínio destas ferramentas desde os primeiros anos de escolaridade vai permitir uma preparação sem antecedentes nestes domínios. Além dos “swipes” nos smartphones praticamente desde a nascença, os chamados “nativos digitais” foram agora obrigados a teclar. Os nossos filhos adquiriram novas competências.

Também os professores menos habituados a estas lides se viram forçados a agilizar novos processos de trabalho utilizando as novas tecnologias, para chegar aos alunos em confinamento, mesmo antes da implementação do #estudoemcasa. Uma hercúlea tarefa que elevou a classe ao estatuto de heróis, não apenas em períodos críticos.

As empresas e as instituições, por força das circunstâncias, viram-se repentinamente contagiadas pelo teletrabalho, constatando-se a sua viabilidade para o futuro, por períodos limitados, em muitas profissões.

Apesar dos efeitos nefastos para muitos sectores da sociedade, tal como as outras crises, também esta terá os seus efeitos positivos. Veja-se o exemplo do comércio. Multiplicaram-se as lojas on-line (como a Paladin, que apresentou a sua em abril), os novos sites, as páginas no Facebook e perfis no Instagram, para publicitar serviços dos mais diversos ramos. Os pequenos agricultores passaram a ter uma comunicação regular com os clientes, fazendo chegar os seus produtos diretamente aos consumidores. As redes sociais passaram a ser a montra preferencial dos restaurantes, das mercearias, das padarias, entre outros negócios, para potenciar as vendas take-away e as entregas ao domicílio. Os personal trainers orientam as “tabatas” através dos monitores.

O mundo empresarial, desde a mais pequena microempresa, criou ou renovou os seus canais de comunicação. Nasceu um novo paradigma no Marketing Digital. Disparou o investimento em publicidade paga nas redes sociais. A ativação das marcas é feita online. Os gestores também perceberam as enormíssimas poupanças em custos e o ganho de eficiência que as videoconferências permitem, em tempo e despesas de deslocação.

Na Comunicação Social, os suportes em papel foram arrasados, o que poderá significar uma redução da pegada ecológica. Por outro lado, a imprensa viu reforçada a sua credibilidade na sociedade, como fonte de informação de confiança.

Na saúde, os avanços são conhecidos. Generalizaram-se as teleconsultas. Na China foi feito há poucos dias o primeiro transplante de pulmões no mundo. Em Portugal, em Matosinhos, criaram-se ventiladores em tempo recorde. Desenvolveram-se sistemas de inteligência artificial para analisar as TAC. Estudam-se centenas de novos fármacos e novas vacinas. A ciência recebeu um investimento e um reconhecimento global nunca antes alcançado.

Confirma-se a teoria de que os períodos pandémicos são tempos de grandes avanços civilizacionais. É o lado positivo da coisa.

(Artigo publicado no jornal Mediotejo.net no dia 26 de maio de 2020)

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